Devaneios e Loucuras

Simples verdades mentirosas e ilusões verdadeiras!

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Local: Mogi das cruzes, SP, Brazil

Intensidade e espontaneidade, assim a poesia acontece.

quinta-feira, dezembro 19, 2019

Tocaia

Tem hora que só quero
Com meus desejos deitar-me,
Minhas estranhezas, estar
E só ser naquela infinitude

Por vezes pego-me a querer
Noites mal acabadas, quisera
Dengos, doideiras, ebriedade!
Por vezes só quis o Eu,

Por vezes estendi o tapete
Do buraco que ora por nós
E vezes despistei-me daquilo
Que é pra mim uma súplica

E por vezes com ela deitei
E por vezes me espantei
Com meu Eu fugidio
Que ébrio insiste em ir

terça-feira, dezembro 03, 2019

Anoitecer

Insistente aguardo
Expectativa insana do porvir
Intransigente vontade
Narrativa que cativava
Entre devaneios se perdeu
Ou está lá (?) como memória
Despida e crua
Cativos momentos frescos
E longínquos, querem esvanecer
Me apego a eles
Tanto que suplico,
Fogem, líquidos, de mim
Me pego encabulado
Parece que já não sei mais
- nunca soubera... -
Embebido nessa acidez dos dias
Perco o doce açúcar moreno
E a pele permanece fria e vazia

sexta-feira, novembro 29, 2019

Lúgubre madrugar

Incertezas que na noite
Assombram com'o vento frio,
Luar contido entre nuvens
Carregadas de memórias
E passam sob as estrelas;
A água cai e canta
Lúgubre pelas vielas,
Ruas e praças, janelas
Olham pra'quele ermo
Da madrugada, silêncio
A rondar, mas gritam alto
Os pensamentos, a roer
Frenéticos a cabeça
Inquieto sabor, tempestade
E lá fora o barulho
Ensurdecedor da desesperança
E aqui dentro o grito 
Abafado da solidão
Do futuro despedaçado
E das memórias que se foram.
E o que resta é a rua,
Na madrugada, a ventania
O sereno e o silêncio
Eterno a agonizar constante

quarta-feira, novembro 27, 2019

Bio-sofreguidão

O corpo, pela dor
E júbilo, fala
Grita em clamor
Constante e bipolar

A primeira forma
De comunicação
É binária: choro
E sorriso; dor e euforia.

Intransigente emitância
As vísceras doem,
Machucado existe
Pra sempre a nos lembrar:

A vida é dor e pouco
De alegria. E lembra:
O deleite esvanece
Mas a dor persiste!

terça-feira, outubro 22, 2019

Tudo começa com samba

Ia assim, sem me ater a nada
Preocupado apenas comigo
Andando no caminho sem fim
Quando um sorriso doce
Me reteve e parei:
Tudo fez-se colorido
Numa já conhecida dança
Que no segredo de seu ritmo
Nasce como mistério
Da próxima nota, próximo compasso
E em rodopios estonteantes
Calor humano-fervente
Canto dos tempos imemoriais
Enlaçados pelo presente
Incógnita do futuro, curioso
Ouvi tua voz, cheirei tua pele
Senti seu corpo macio sobre o meu
E me joguei, e me despi
E o tempo parou, só havia ritmo
E tudo começou com um samba.

quinta-feira, maio 16, 2019

Sintaxe

(Texto escrito à 4 patas, experimentando a materialidade da estética, junto a meu camarada Fabio M. Namura. Saúde, meu velho rabugento.)

Do demônio, nos braços residia
a refração de aparentes dentes.
E olhou pro céu, e quando mais fundo olhava, mais via;
e alto via que tudo era fundo.
E isso era um bom enigma
Já pra quê, não via,
E ver enigma-imagem, imagem-enigma
Sem ponto para fuga.
Que em cada ponto era um universo
A reprodução, quentíssima, do buraco único
que há nada escapa é capturada
Jatos relativísticos de puro sentimento e emoção
Fascínio e melancolia do tempo e
do cão, varre-lavras, o sete peles.
O grande dragão do sul, jeriquitana
do Leste e seus olhos verde-vermelho
O eroticamente-audacioso quis entender a própria cabeça
E varreu a si, e ao mundo, com sangue falso
solução simples, algum cianato desses qualquer.
Queria mesmo era andar de costas, fazer o dia evaporar.

11/05/2019 às 23:52hs

terça-feira, dezembro 25, 2018

O luscofusco de um país: Dia 25 de Dezembro, o dia do Natal

A cada dia que passa, quando o novo governo eleito se aproxima de tomar a sua posse, já dando as cartadas de muito do que ocorre, dando tiro nos pés e fazendo coisas piores do que algumas das mais otimistas previsões disseram, vemos que a derrocada já passou e já nos encontramos numa espécie de inferno social, só que ainda não nos demos conta.
É interessante notar uma parte dos eleitores do dito presidente esbravejador: ainda existe uma esperança democrática neles. Sem entender muito bem - pois é difícil entender mesmo - a irracionalidade do processo que foi deflagrado contra nosso país, soltam o jargão do “vamos torcer para que dê certo”, “vamos torcer para que as coisas melhorem”, “vamos ter esperança”. Fiz questão de enfatizar essa última palavra, pois as pessoas esperam por algo que não entendem, não conhecem e estão apreensivas.
No meio de escândalos de caixa 2 virtual e não virtual, de censura, de sumiço de provas, de declarações ditas, desditas e ditas novamente, de uma justiça partidarizada, o que se vê nesse período de festas é todo mundo, na verdade, segurando o toba: não existe tanta alegria nas ruas, as lojas não investiram na decoração natalina, não se falou do quanto os lojistas esperavam por esse período, não se falou que o povo ainda vive na esperança democrática de que as coisas podem melhorar, que serão diferentes, e o que se vê é as pessoas sem muito clima pra festejar, mas fez-se questão de fazer com que tudo parecesse normal.
O que não se fala e essas pessoas também não dizem é: melhorar pra quem? Claro que não vão falar, isso está entranhado no processo do que é a política e a própria justiça, perpassados pela economia. Nesse sentido o direito vai dizer pra nós quem vai consumir, pra quem será o consumo, quem irá produzir, pra quem será a produção e, aquilo que é mais escondido por essa lavagem cerebral que foi feita pelo processo ideológico: a vida vai melhorar, mas, pra quem? E: o ideal de justiça dado pela sociedade das classes sociais é mesmo justo?
Do lado dos jovens, que mais sofrem com esse processo, a apreensão é facilmente verificável: tal processo de lavagem foi tão ardilosamente construído que basta falar em PT, Lula e esquerda que uma avalanche de todos os tipos de preconceito e ódio é automaticamente desencadeada. Isso pode passar um tanto quanto despercebido, mas é algo muito sério: é o desencadear de um ódio, uma lógica do ódio, ou seja, fascista. Um exemplo significativo disso surgiu quando usuários de uma rede social propuseram trocar a cor do do papai noel por outra que não fosse o vermelho, que os remetia àquele ódio de maneira automática, e isso de fato aconteceu em diversos cantos e festas de firma pelo brasilzão. O jovem vê tudo isso e, muitas vezes “vai no flow”, e não sabe o que está defendendo. Existe algo hilário disso ai: sua família, que conseguiu ter acesso a muitos bens (e não tô falando daquele jargão um tanto quanto besta do ser x ter - vivemos em uma realidade material e o ter é preciso sim, a terra simplesmente do ser é aquela que está lá em cima, junto de uma possível essência, claro, dos cidadãos que se acham de bem), agora verem o circo se fechando e percebendo que tais oportunidades talvez não existam para sua prole.
A ideologia do hiperindivíduo, essa própria do neoliberalismo, confundiu as mentes das pessoas: se fala do empresário e o indivíduo trabalhador pensa e entende que se está falando com ele, empreendedor que é. Loucos para trocarem de lugar e ao invés de oprimidos tornarem-se opressores, ou apenas melhorar de vida, ou apenas porque nos países periféricos do capital esse é o modo que encontram para viverem com alguma dignidade, não compreenderam que esse “empresário” a qual se fala aos quatro ventos é o grande, o imenso, aquele que já domina o processo político e econômico de tomada de decisões. E isso será sentido na carne: a ideia de acabar com o simples nacional, por exemplo, fará um efeito em cascada para milhares de pessoas, que se sentem empresários e acham que esse discurso é para eles.
Torcer pra quê se tudo o que se avista no horizonte é o sétimo círculo do inferno de Dante: congelamento de investimentos sociais, privatizações a torto e direito, fim das garantias e direitos trabalhistas, aumento do custo de vida, detonação do meio ambiente por meio da venda do aquífero guarani e doação de terras (inclusive indígenas e quilombolas) para ruralistas, aumento da pobreza e desigualdade social, etc.?
Outra questão interessante é notar que essa é, talvez, de todas as datas sociais mais aguardadas e celebradas, a data da hipocrisia: o tal espírito natalino da solidariedade é pós-moderno, só existe no discurso e está longe da prática de muitas pessoas, sobretudo daqueles eleitores do novo governo, que sustentaram o jargão nazista do “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. É totalmente contrário daquele quem faz aniversário e eu não sou uma pessoa religiosa.
Que tipo de solidariedade é essa que coloca Jesus do outro lado da arma? Que quando se fala de justiça social é inflar o Estado e fazê-lo paternalista? Que lógica é essa que o aniversário de um líder religioso que partilhou, aceitou todas as diferenças, que pregou o amor, faz as pessoas se colocarem do outro lado e falar que tudo isso é coisa de petralha, esquerdista, e que o melhor caminho é o bandido bom é o bandido morto, que partilhar nada, precisa-se de esforço e mérito, que a pessoa é pobre porque quer, que esse papo de igualdade social está longe daquela que seria a sociedade do cidadão de bem, que votam em alguém que abertamente exalta a tortura quando num processo escuso (foi golpe sim!) homenageia um torturador, que vê lógica em torturar aqueles que foram julgados pela lei e não os quer ver reconduzidos à sociedade esquecendo-se do entorno social em que foram forjados para assim o serem? Poderia descrever aqui vários outros exemplos que me fazem concluir que o que impera nesse momento em nosso país é a hipocrisia, grande comparsa do fascismo.  
Realmente parece que só há uma saída: torcer para que quando chegarmos mais abaixo da onde é o fundo do poço consigamos transformar nossa luta em uma mudança social real.

25/12/2018

quarta-feira, dezembro 19, 2018

Transmutação

Nos achismos da vida
Todas as questões que levo comigo
E toda verdade suposta
Que se fez quase única
Eu sigo caminhando
Na parceria dos verdadeiros
E vou aprendendo
E não tenho medo disso
E vou quase sozinho
E me transformo.

segunda-feira, dezembro 17, 2018

Você, impossível

Não, não tenho amor por você
Só a vontade suprema de experimentarmos
A junção doida de nossos corpos
Tudo pra gozar juntos,
Se não o gosto não rola.
Mas, infelizmente, não poderei.
Você é de outro tempo.


quarta-feira, dezembro 12, 2018

Erótica

A coisa é e se faz em asfalto
Grita e tem força
E nós permanecemos
No caos reina a verdade
E não importa pra onde nós resistimos
E você nega o por quem grito
Solidariedade e humanidade
Fraternalmente somos um
E dois
Somos um casal prazer
Noite e dia, o oceano
Ondas de vai e vem
Sem farol, despidos e nus
De vontade intransigente
Do universo e da permanência
De cada dia te amo
No universo e na cidade
E sou maior por você estar comigo e a cada segundo sou melhor do que antes
Somos humanos como sempre e como único
Somos unicórnios, ursos
Feitos de carinho e cuidado
E bravos no gostar
E dá afeto
Mesmo quando distraímos
Cada segundo eterno
Na eternidade e ter você
E ter você em meus braços onde não existe mais que um para outro
E o segundo eterno, o que é e somos dois mergulhada em teu corpo te desejo além da razão e pra além de coração te amando
Só existe a pepeca doce
Açúcar de maldade
E de revolução
Grita,com pacito de bu…
E fodem-se!

terça-feira, dezembro 04, 2018

Desejo anuviado

E se tudo fosse diferente
Entre nós, outro tempo
E até lugares, outro momento
Que nos permitissem
Singelamente, nossa união
Nosso saborear um d'outro.

De antemão, se soubéssemos,
Haveríamos de esperar
Ou pedir isso ao tempo,
Ou implorar pra vida,
Pro acaso universal
Uma chance afortunada?

O que seria de nós
Se a contingência
Se mostrasse outra,
E o bálsamo do encontro
Se fizesse possível
Numa acalorada colisão?

É uma espécie de sofrência
A fugidez desse Existir
A Vontade que, multi-morfa,
Se apresenta em querer
O curioso sentimento
Do desejo do impossível.

quarta-feira, novembro 28, 2018

O maior engano da humanidade

Corações que não deixam de querer
Como se o amar fosse
De fato, algo além de criação
Convenção feita, desejo íntimo
De passar pra além
Sua genética, monogamia falida
Que gera dominação, violência,
E também angústia e poesia.
Relações que ecoam
Débeis, o medo da solidão
Da morte da espécie.
E chamaram alma-gêmea
E controlaram o outro
E mataram o amor,
Como mataram Deus e o diabo,
Como enlouqueceram corações
A duelar pela posse
Da paixão fugidia
Tudo em nome da fraqueza humana
Em querer controlar seu corpo
Pelo corpo do outro,
Corpo esse que grita
Prazer esse que explode,
Erógenos sentidos
E o seu nome,
E ele deve ser só de alguém
Menos de nós mesmos.
E fingimos o amor,
E por ele ficamos ébrios,
Cantamos súplicas
Nos enganando com a metafísica,
A mentira das mentiras,
Pra calar a vontade suprema
E nos desfazermos do suposto pecado.
Imagem fugidia que enlouquece
Os mais afortunados
E os lança para o berço
Da propriedade e da dominação,
E nos faz anular quem somos
Em nome da ideia
Daquilo que chamamos amar.

terça-feira, novembro 27, 2018

O ludibriar do amor imaginativo

Dos amores proibidos que exulta
Dilacerado querer demasiado
Falso palpitar que suplica
Um arco-íris de paixão extasiado

O respirar canta, estupefato,
O clamor das vísceras delinquente
Na vontade ignóbil enclausurado
Querendo fugir do sentir insolente.

É falsa e mentirosa essa gastura
E só se faz presente na clausura
De imaginar aquilo que se sente

Mas arde, tal qual formosura doce
E a sublimação é real e cresce
No peito de quem ama falsamente.

quinta-feira, novembro 22, 2018

Proibida vontade

Pela contingência fomos separados
E por ela também nos encontramos.
Se o tempo atrasasse pra mim
Ou pra você adiantasse
Talvez nossos corpos poderiam,
Na exaltada vontade,
Se chocar, entrar
Fraternalmente um n’outro
E isso, quem sabe, viraria amor.
Mas a Fortuna não quis assim
Me jogando numa espécie de desespero.
Não poderemos, nunca,
O calor seu e meu sentir!
Nunca poderei acariciar
Sua pele aveludada,
Seu rosto exuberante,
Seus olhos que tocam profundo,
Penetrantes e infinitos,
Seu sorriso jovial,
Seu coração de mel
E assim nesse frívolo existir,
Sentido se fazer gozo
De constelações que se chocam
E fazem o coração bater junto
E soar demasiado intrépido.
Não, não poderemos estar!
E isso tudo parece ser
Emoções que não posso sentir
Proibidas que se calam
Junto a noite, sozinhas.

terça-feira, setembro 11, 2018

Crônicas balísticas

Esse não é um texto meu, mas de meu amigo e mestre Atanásio Mykonios. Já postei outro texto dele a um tempo. Esse pedi a ele pra postar por sua sensibilidade arguta de uma previsão que parece ser cada dia mais certa em nosso querido e roto país. Tomara que seja uma crônica e assim permaneça e não a previsão de um maldito e malfadado futuro.
__________________

Pafúncio, o cretino tem um plano para a armamento da população.
Já que o candidato  não diz como fará, Pafúncio entra na campanha pra valer.
Segundo ele, é preciso popularizar o preço das armas. Elas têm de ser como celulares. Essa história de revólver a 8 mil, 9 mil não dá certo. De 500 a mil, no máximo. E têm de ser vendidas em todos os lugares, até em posto na beira da estrada. Pela internet também.
E sem burocracia. Estado mínimo é pra isso, facilitar a vida dos cidadãos, sem burocracia, é comprar, receber e usar, como celular, desbloqueado. A partir de 16 anos qualquer um poderá adquirir sua arma. Afinal o fim da maioridade é pra isso  também. Essa molecada tem de aprender a votar e atirar.
Shoppings, supermercados, livrarias, lojas de departamentos, banca de jornal, pastelarias e puteiros. Casas Bahia, Ricardo Eletro, Magazine Luiza, Lojas Americanas, Walmart etc.
Todo mundo vai ter a sua. Homens e mulheres de bem.
As pessoas poderão portar suas armas nas reuniões de sindicato, na assembleia do condomínio, no almoço de domingo, no casamento da filha mais nova, no batizado,, nas provas do ENEM, nas compras do supermercado, no ato da votação, no churrasco dos amigos, no passeio turístico, no atendimento no SUS.
As pessoas poderão passar pelas roletas dos bancos sem serem constrangidas, poderão exibir suas armas e entrarem sem o segurança apertar aquele maldito controle. As velhinhas também terão livre acesso sem serem constrangidas ou impedidas de entrarem no banco no atendimento preferencial.
Garçons, gerentes, garis, mestres de obras, uber, farmacêuticos, guias turísticos, caixa de Banco, professores do ensino médio, coordenador de curso, vereadores, urologistas, prostitutas, juízes, apresentadores de telejornais, atendente de telemarketing, pipoqueiro, frentista de posto, manicures, padeiros, padres e pastores e pais de santo.
Os conflitos não precisarão mais serem resolvidos no Juizado de Pequenas Causas, um duelo entre os contendores será suficiente. As sogras poderão se defender de genros beligerantes e as mulheres de bem poderão reagir aos estupradores.
A paz voltará ao seio das nossas famílias. Briga entre irmãos ou entre cunhados serão resolvidas com as armas.
Segundo Pafúncio, é preciso democratizar o acesso, baratear o preço, desburocratizar, desbloquear, dar incentivos para a criação de indústrias bélicas, investir em ciência e tecnologia, criar linhas de financiamento e promover a ampla educação balística a partir do ministério da Educação, distribuindo o Kit Segurança nas escolas Sem Partido.
Uma sociedade armada saberá educar seus filhos para a paz, a segurança e a solidariedade, segundo Pafúncio.https://www.facebook.com/atanasio.mykonios

terça-feira, setembro 04, 2018

Cerrado brim corrente

Existem só dois dias e duas noites
Eles se intercalam entre os muros
Daquele dia em que me ouço
Daquele que me despeço de mim
Elas, entre o desespero e o abraço,
Minguam luares, despedem cetim
Sacodem o tempo e bailam
Sonâmbula fratura crivado delírio
Moribundo corpo e consciência
E é tudo incessante, perene inconstante
E se engole no outro
Dois dias pra sempre e fim.

sexta-feira, agosto 31, 2018

Sou Guepardo
Misto de audácia
Com churumelas
Sou felino,
E a astúcia
Penetrante abre
E minha argúcia
Fatal é!
Na maciez
Arguta de vida
Excêntrica mente
Camaleônica

quinta-feira, novembro 30, 2017

Flerte

Áh, o flerte!
Espasmos de sensação
Alegria de coisa boba,
Queima e rubra a cara
Olhar profundo,
Eros lança as flechas
Heresia do amor
Volúpia da vontade
Do possível,
Namoro com o incerto
Que deixam os dados rolarem.

quarta-feira, novembro 22, 2017

Meu maior inimigo

Alimentado de ebriedade
Latente farfalhar
Como embuste rijo
Onde quer aparece
Olvida a mim e
Leva-me a bancarrota

Ativo inimigo graúdo
Lancinante tu és
Com tantas artimanhas
Obsceno e intruso
Obras a derrocada
Lança ao desespero

Ausculta minha lástima
Levou-me ao ódio de ti
Como exigente que és
Ouça e entenda, vil inimigo,
Ódio por ti é o que tenho
Ladino maldito e feroz!

Amparem o meu desespero
Lascado encontro-me
Com esse inimigo,
Oponente ardil, poderoso
Opositor de múltiplas faces
Líquido de muitos amantes

Ardente é minha vontade
Leve quero ficar
Com minha sobriedade
Otimista com minha vontade
Outrossim sossegado
Liberto desse rival

terça-feira, setembro 12, 2017

Negar

Pra negar aquilo tudo que jaz
E que possa se apresentar novamente,
No que foi passado e conserva tênue
Uma ignóbil lembrança de um signo
Que ousei crer, mas que não há mais
Por não ter surgido no céu, mas na terra.
Forte como luz, pensava iluminar,
Mas era uma luz enganadora, falaciosa
Me fiz esquecer do que era, muitas vezes
Ludibriou-me no encanto doce,
Que até perdi-me em seu ser
Por levar ao céu algo que estava ali
No entre, no ser, no outro, no ser-junto, no nós,
Nos corpos que chocam-se no vazio
Do espaço infinito e preenchem-se da força
Kundalini misteriosa, encantadora
Que transformei em ideia e pus a engambelar-me.
Nego essa ideia, essa ideia criada por mim
E negarei se ela se apresentar novamente!
Nela me perdi do mundo
E eu junto de mim mesmo já não sabia mais achar o outro.
Despistar de mim toda a fábula e metonímia que um dia ouse criar
Ela, ao outro e a mim, leva ao limbo!
Negar em mim toda a metafísica
E negar toda a idealização, negar toda definição
E romper, pra poder, novamente, sentir a Vontade
De amar na carne
E deixar ser

quinta-feira, agosto 31, 2017

(sem título)

Os fantasmas do real vêm me assombrar novamente.
Por vezes os acho só fantasmas
Que me anestesiam
Mas são a realidade, nua
Despida de qualquer ideal.
Dicotomia da putrefação e construção
Sem esperar um deus
E construir ou almejar
... ou ambos?
Dane-se!

O real é o maior caminho da negação!

quinta-feira, agosto 10, 2017

Ensejo

Deturpada encanação de esperar,
Num encucar de receber um chamado,
Dádiva que nunca virá. Rodamoinho vertiginoso,
Peças de delírios ardentes sob a luz da Lua,
Vermelhidão do vinho e sons de carícias
Doidas e apaixonadas, ardente lembrança.
Não chega e nem chegará tal dia
Em que as fagulhas que habitam em mim
Novamente encontrarão repouso entre seus dedos
De carinhos acalentadores e tão intensos
Que fazem meu coração pular pela boca,
Estremecem cada parte do meu corpo
Como um terremoto cujo epicentro é você.

quinta-feira, agosto 03, 2017

Inapelável outono

Ah, aquele fatídico final de Maio
Afastou seus olhos de mim
E também seu querer.
Idiota! Num certo capricho
Pisei em falso e acabei com nós.

terça-feira, agosto 01, 2017

Hoje acordei sentindo saudades

Hoje acordei sentindo saudades e assim o dia passei
Saudade do tempo em que era criança
E a única preocupação era brincar com o agora,
Dias puros e coloridos.
Saudade de planos criados, dos futuros imaginados,
Do que vivi e não vivi,
Expectativas que já não são mais.
Senti saudade de quando havia abundância de sonhos
Tempo em que as pessoas tinham perspectivas
E a felicidade estava na palma das mãos.
Também saudade dos toques que exaltam os sentidos
Daqueles abissais olhos verdes e olhos castanhos
E do desvario que eles me transportam.
Senti até saudade de mim!
De quem fui, de quem esperava que fosse, de quem sou.
Mas a saudade mais aguda que sinto
É a de ter esperança.

sábado, junho 17, 2017

Turbilhão

Lógica das contradições
O obscuro, heraclitiano, devir
O querer, não querer mais,
E depois querer novamente, no minuto seguinte
Indefinir, definir, não definir,
Causa e efeito;
O não ter e querer ter e não querer mais,
Dizer sem falar nada e o silêncio que tudo diz,
A certeza do incerto e assim não saber mais.
Saber, sentir, mente mentecapta,
Idiotia. Esquece, mas não,
Lembra, e também não
Taca o foda-se mas tem carinho
E com o carinho não se importa mais.
Solidão acompanhada,
O danar-se e o importar-se
Ser, só que não, e assim É, Existir
Rasga e quebra, não deixa nada sobrar
Pra depois ajuntar os pedaços e querer o Todo novamente.
Miríade de incertezas daquilo que certo está
Importar-se, depois já não mais, depois novamente e depois não mais, de novo
Mesmo assim continua
E também para...
Num parar de fluir e continuar seguindo.

quarta-feira, maio 10, 2017

Beijo

Festejar a junção de nós dois
Com a língua doce e febril
Queima suave, fulgor de prazer
Por todos os possíveis cantos
Por toda a imensidão dos corpos
Canta o tesão sublime
Vontade imperiosa que se deixa fluir
Volúpia divina, majestosa
Momento afável, crava no peito
E quanto mais maior o desejo
E assim beijar, e beijar, e beijar...
Você.

segunda-feira, abril 10, 2017

A falsa paixão

Lógica é a área da Filosofia que estuda as regras do pensamento e do raciocínio, na verificação de como podemos criar argumentações que sejam verdadeiras. Ela começa com o filósofo Aristóteles, III séculos antes de Cristo. Seu estudo nessa área é conhecido como lógica formal. É incrível que a existência é desprovida de lógica, nossas sensações e emoções não seguem, necessariamente, uma lógica, que parte de premissas para se chegar a uma conclusão. Não, simplesmente vivemos, sentimos, somos, nos apaixonamos e deixamos de nos apaixonar. E assim é, assim caminhamos. Procurei brincar com essas duas ideias, de um lado um raciocínio falso, que seria uma falácia, havendo uma premissa que te leva ao erro, de outro lado a paixão, que não tem nada de lógica e nos entorta... e também nos move. Assim segue:

Erro de premissa, falácia
A paixão que se apresentou
Ao corpo, rede sensória
Emaranhamento estulto
Contudo forte, graúdo

Que faz-se em convulsão
Ébria, louca, quer convencer-te
E consegues! Estúpido roldão
Porém excessivamente tão sublime
Que se deixa levar e vai
Perdido e a esmo se trai

Assombro surgido da falta,
Saudade da página que se virou
No ferver do momento exalta
O querer novamente o que já passou
Vai e se engazopa!
Vai e te fere e te entorta!

Premissa errônea te confunde
A ideia surge da sensação
Nesse eterno embate
Corpo, conceito, emoção
Eu fico assim, sem resolver,
Ludibriado com minha paixão

segunda-feira, abril 03, 2017

A saudade...

A saudade, que se foi
O tempo que, etéreo, materializa-se
Um abraço que ficou no ar
E se fez promessa...

A saudade da distância
O elo que une, imaterial
No sempre e no nunca
Encucada vontade de abraçar,
Intermitente vontade de estar junto.

A saudade que não sai do peito,
Quase amiga, quase odiosa,
O quase e o tempo
De termos muito tempo
E ele passar e nos deixar distantes

Pensações 1

Por trás de tudo sempre existe o Nada
Não-existência verbal
O vazio da não-existência.
Pode sentir-se mergulhado nele? (!)
Boiando no Nada que é o Existir
Apalpamos a Verdade a todo momento
Mas, na tentativa da comunicação
Brincamos de criar idéias
Ai a idéia passa a ser a realidade
E o mundo invisível sobrepõe-se ao concreto
Então esquecemos de dizer que
A Realidade é agora!
A Realidade do Todo,
Do Todo que conheço e do Todo que não-conheço,
Os dois que são o Todo inteiro,
A realidade é o Nada anterior
E o silêncio perante os Porquê´s.

domingo, março 26, 2017

Pro grito fomos
De consciência inabalável,
No entendimento irrestrito
E na fervura das expectativas.
Quantas delas, estiveram hoje
Presentes, juntas e também sozinhas
O sonho é forte, a prática é presente
O tormento do momento
Enriquece o esperar.
Confuso momento, de um momento nosso
De todos, e de nós
Que estivemos juntos, mas separados
Unidos na luta, militância diária
E separados por um abraço
Que na imanência e na expectativa
Não se concretizou

terça-feira, março 04, 2014

Pensações

O cara ali, descendo a rua
Outro ali, a beber no bar,
Damas da noite desfilam,
Com o sabor de um alaranjado anunciar
Da noite, tropical verão
Onde as moças encurtam seus panos
Deixando assim um cheiro
Apaixonante no ar.
É tempos de nós, bichos, sentirmos a Vontade Suprema!

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Vício

Como podemos ser livres
Precisando de algo?
Como podemos ser livres
Se não ficarmos sóbrios e conscientes?


Quem sou eu
Que para sê-lo me altero?

Sombra e penumbra
Moram na ebriedade
E nosso auto governo
Depende de nos comandarmos.

Escolhas da existência
Que precisamos tomar
Para sermos Nós,
Para ser Eu!

quinta-feira, setembro 13, 2012

Faça

Hoje escrevi uma poesia dentro da sala de aula, depois de uma conversa muito bacana com meus alunos. Dedico essa poesia a meus alunos e alunas, espero que, especialmente para eles, ela tenha algum sentido:
É tempo de mudança,
hora de sentir-se agente.
A responsabilidade de viver
é o peso da escolha.
E o que você vai escolher?
Fazer a diferença ou ser mais um?
Tua consciência pesa sobre teus ombros:
Mais fácil é conformar-se com o destino
do que construir sua vida.
Não se arrependa do que escolheu,
mas escolha com consciência para não arrepender-se depois.

Olhe, levante a cabeça,
sinta-se: sinta o que pode enxergar,
o que pode ouvir, as sensações táteis,
os odores que flutuam,
os pensamentos que voam e pare:
Você está aqui, no mundo.
Você Existe e tem o poder de se construir:
O que você projeta para si?

terça-feira, junho 05, 2012

Tudo voltado para o nada, o final, promissor, não há Discute-se no vazio, para quê? Não se sabe. Acreditar, em quê? Em qual futuro? Que futuro! Que nada... não existe nada, Vazio, supérfluo mundo de lógica torta, falida, Dos cabeça dura esmurrando em ponta de faca. Pra quê? Pra quê? Brigar pelo progresso, Que progresso? Qual melhora? Vontade imponente, soberana, Sublime de querer melhorar o mundo Somos apenas células de um organismo destrutivo. Não há o que fazer! Não há o que fazer! E porque ainda tentar? Melhorar pra quê? Ilusão! Ilusão! Ilusão!

quinta-feira, abril 14, 2011

A vida passa
Como bola de neve
Se fazendo gorda
Se construindo inintendível.

E, é tudo onda...
É tudo um grande
Vazio mental, Vazio
Angustiante de Ser.

Vivo no vazio,
Quero o vazio
Porque nele encontro-me,
Nele, Sou, maiusculamente!

Servo de mim mesmo
Servo de toda a humanidade.
Por entender demais,
Por saber, e ter certeza,
De entender de menos

O Humano.

E assim ser, sem mentiras
Um alguém que vive
Humanamente!

De forma totalmente
Livre. E, desse jeito
Escolher isso para Todos,

A liberdade de ser o que É!
Sem vergonha alguma
De ser macaco-pensante.

De ser, inteiramente, completamente
Humano.

terça-feira, março 15, 2011

Rosa-flor


Na tristeza de ver a Rosa-flor de seu jardim
Partir, dizia: volta, volta pra mim!
Uma ternura de caos sentia
Era a Rosa-flor que partia.
- Não vá, minha alegria,
Não parta de mim assim!
E a Rosa-flor chorava e murchava.
- Volta, não morra em mim!
Numa ternura se lamuriava,
Era sua felicidade que se esvaia;
Longinquo e tenebroso ficava
Seu jardim, que se escurecia.
Num desespero chorava,
Com lágrimas, a Rosa-flor regava
Num réquiem que dizia:
Não vá assim, volta
Rosa-flor, volta pra mim!

sábado, fevereiro 05, 2011

Ando pelas ruas quando vejo
Que o que anda é meu corpo
Minha cabeça fica parada
Encouraçada pelas cores da rua
E eu não consigo seguir
Meu corpo vai-se, só
Ele é quem entra em contato com tudo
Todos, transa, pula, toca...
Sente.

E eu, perdido em mim
Vivo perdido.
Num lodo-sujo de nada,
De estar perdido
De já estar morto.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Crise

Estou eu sendo sincero
Ou minto para mim mesmo?
Este constante titubear
De permanecer em confusão
Sobre o como agir.
Como posso certeza não ter
Do que fazer para sanar
Estas minhas pendentes dúvidas?

Áh! que bom que sinto isso!
Não será o que nos faz humanos,
O não-saber? Sempre em crise
Seguindo em rodopios e indagações;
Incertezas de tudo que pode vir a ser,
Imaginando algumas poissibilidades com potência
Para tornarem-se, e também percebendo
Todas aquelas possibilidades que podem vir,
Contudo, sem que possamos, sequer,
Imaginar.

Áh! que delicioso prazer
De assim sentir-me vivo!
Existente-humano de sentimentos, pensamentos,
Emoções opostas, contrárias, similares
Contrariadas. Como se sente
Quando a única coisa que parece sobrar
É teu reflexo te incumbindo de decisões
Tomar, escolher o caminho a seguir?

Pobre de nós, e quão ricos!
Engaiolados pelo peso de termos que tomar partido
Porém soltos a ponto de podermos eleger
O caminho a trilhar em nossas vidas.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Retomo o ato.
Em linhas gerais, ninguém pertence a ninguém
A ninguém! Mas a sinto minha...
Seria a monogamia natura
Ou vítima do processo histórico?
Poderia ser também uma mistura,
Um processo aleatório-químico
Com uma pitadinha de personalidade animalesca
Que nos faz espécie,
Transforma o informe numa forma
Que são muitas
E sou Eu!

quinta-feira, setembro 23, 2010

Eu desconfio, tu desconfias

Este não é um texto meu. Escrito por Rosely Sayão no jornal Folha de São Paulo, na terça-feira, dia 21 de setembro, me chamou muita atenção pelo fato de refletir algo que penso e repenso em todos os meus dias: minha relação com o outro e a dele comigo. Coincidentemente, ontem, quando saia da minha última aula com meu aluno conversando sobre shows e filmes, passou um bando de moleques que zoaram com nossa cara. Minha atitude foi a de pensar "losers" e, tanto ele como eu, nos entreolhamos e dissemos "nada a ver". Havia lido este mesmo texto a apenas 1 hora antes e coloquei-me a pensar. Não quero aqui concluir nada, mas quero que este meu post seja apenas mais um meio de reflexão de algo que estamos realmente perdendo e deixando de lado, nossa relação com o outro e que, assim, colocamos algo muito podre no lugar: o absoluto desrespeito ao outro, ou seja, a falta de consciência de nossa coletividade.

Que vida é esta, se estamos sempre prontos a pensar que o outro está aí para nos prejudicar?

A ÉPOCA em que vivemos tem uma característica que afeta profundamente as relações interpessoais e, portanto, a vida em sociedade: a desconfiança que criamos em relação ao outro.
Um trecho da letra de uma música expressou um sentimento que surgiu na década de 1960: "Não confie em ninguém com mais de 30 anos".
Hoje, ficamos apenas com a primeira parte da frase: "Não confie em ninguém".
Isso já começa com as crianças. Uma garota chegou da escola e contou à mãe que não estava se sentindo muito bem. Naquele dia, tivera aula de educação física que foi realizada sob o sol. A mãe preocupou-se, pelo fato de a umidade do ar estar muito baixa. Então escreveu ao professor, manifestando sua preocupação.
Pois esse fato tão simples transformou-se em uma grande encrenca, porque o professor acusou a aluna de ter, ela própria, escrito a carta com o intuito de livrar-se das aulas de educação física.
A mãe teve de ir à escola para autenticar sua carta.
Como fica a relação dessa aluna com a escola, sabendo que seus atos são encarados com tamanha desconfiança?
Nas escolas, ocorrem pequenos furtos diariamente. E esse fenômeno não é típico das escolas públicas, caro leitor. Nas escolas privadas, em que os alunos são de classe média alta, o fato ocorre regularmente.
Algumas instituições adotaram uma prática quando desaparece algum objeto de alunos em sala de aula: revistar as mochilas e malas deles.
Nem vou tratar aqui da ação policialesca da escola, em vez de educativa. De novo, é a desconfiança que impera nas relações da escola com seus alunos.
E o que falar do que ocorre no mundo corporativo? Em muitos hospitais, empresas de todo tipo e porte, casas comerciais etc., agora virou rotina a prática de revistar, na hora da saída, bolsas e pastas de funcionários.
E o que é ainda pior: todos se sujeitam a essa absurda invasão de privacidade, provocada pela desconfiança de todos.
Nesse caso, por se tratar de adultos, o fato é grave. A empresa não tem ideia dos sentimentos que isso gera e, mais cedo ou mais tarde, arcará com consequências de sua decisão.
Os funcionários, por sua vez, ao se colocarem nessa situação humilhante, são tomados por emoções nem sempre reconhecidas, que podem provocar reações dos mais diversos tipos no exercício profissional.
Uma enfermeira que trabalha em um hospital em São Paulo tido como de primeira linha disse que, todos os dias, quando passa por essa situação, fica revoltada. A empresa não revista os médicos.
"Então, há profissionais que estão acima de qualquer suspeita?" pergunta ela. O segundo motivo da sua revolta é que ela considera sua bolsa seu espaço mais íntimo, quando não está em casa. Isso significa ter de escancarar sua intimidade para estranhos. Há alguma coisa pior do que isso?
Precisamos dos outros. Sem eles não há vida social possível. Convivemos com os outros, como colegas e estranhos, boa parte de nossa vida: no trabalho, nos espaços públicos das cidades, no trânsito, nos transportes coletivos etc. E que tipo de vida é essa, se estamos sempre prontos a pensar que o outro aí está para nos prejudicar?
Nós temos pouco a fazer para mudar este mundo. Os mais novos farão isso. Mas bem que eles poderiam contar com nossa pequena colaboração: a de mostrar a eles que o outro faz parte de nossa vida e que temos com ele uma relação de interdependência.
Por isso, melhor ter apreço e respeito do que desconfiança e hostilidade. Só assim o clima social pode melhorar.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

quinta-feira, setembro 09, 2010

Pensações IX

Ia plácido por ruas intranquílas,
Caminhante, em meio a uma múltidão etêrea.
Ia-me só!
Mas percebi: não estou sozinho,
Meus pensamentos rondam-me.
Arrepiei-me!

Quadros bruxuleavam
Quase que fisicamente,
Emoldurando, tecendo,
Criando ligações humanas.
Humanas!

É só isso que posso vislumbrar,
É só isso que sou;
Humano, de forma muito demaseada.

sábado, agosto 07, 2010

Vício

E eis que me encontro novamente
Vertigem de querer mais,
De não querer parar nunca,
Entrestecido com o saber do fim,
Do saber que o fim
É começo do tudo-de-novo.

domingo, maio 30, 2010

Num momento

Mordendo os dias
Engolindo o fazer-se
Histórico.

Humanóide, bípede,
Louco!
Mamífero no sexo
Êxtase do prazer,
Devir constante
Do mais primitivo-profundo:
O continuar com isso tudo!

Momentaneamente ser Humano
De forma eterna,
Sem tempo.

quinta-feira, maio 27, 2010

Existo, logo escolho

As experiências são infinitas
Mas eu não.
Viver é determinar-se,
É ser preso a escolher
E por isso ser livre.
Escolho e por isso Existo!

terça-feira, maio 18, 2010

Qual vai ser a porta de saída
Pra entrar no objetivo,
Para fazer o gol?

Qual vai ser? Qual vai?

Procurá-la no escuro é tatear de luvas
Mas o escuro é minha própria visão,
Meu próprio olho que não quer enxergar.

Não admitir o que tenho pra falar,
O que tenho pra ouvir.
Pra vomitar!

Porta escancarada de mim mesmo,
Da mudança. Da atividade. Do fazer.

(Depois de um tempo num estado volátil de estagnação, voltando a atividades de escrever)

quinta-feira, agosto 27, 2009

Quisera eu ter-te agora
Enlaçada em meus braços,
Corpo e boca, contornos frívolos
D`uma viceral vontade
De possuir-te ao extremo...

Ao gozo!

quarta-feira, julho 22, 2009

Caixas

Luzes dentro da caixa
Preenchendo-a, tornando o escuro
Claro, e vem-se o quadro
Imagem biológica
De pinturas racionais, dialéticas!

Matéria etérea, energia dura!
Liga-nos por tecidos, teias
E temos a grande caixa
Onde colocamos nosso nome,
Onde percebemos que estamos.

Enxergo percebendo o momento
E o que estou em contato,
Todos os seus indivíduos,
Indivíduos imaginário-concretos,
Uma ligação instantânea,
Real, espacial, sublimemente absurda!

Essa inefável caixa gigantesca
Que é Tudo, até onde podemos imaginar,
Até onde é possível ser
Que nem imaginar podemos.